O problema em Hermann é que passaram quarenta anos desde que começou a desenhar o Comanche de Greg, arquétipo (literalmente falando) do "western" em banda desenhada. E por mais esplendor gráfico que Hermann apresente as suas personagens são, desde então, sempre pálidos estereótipos. E os enredos nunca daquela densidade, tão notória é a ausência dos argumentos de Greg, para sempre um défice. Assim, e por mais injusto que isso seja, o leitor compara e lamenta, pois once a Red Dust, always a Red Dust.
Daí a pouca empatia com este Dario Ferrer, protagonista de “
Afrika” (Éditions du Lombard, 2007 [1993]), o eterno hermannesco desajustado, envelhecido mercenário, agora ecologista desamparado, vítima de um mundo que já não quer aceitar. A maturidade como crescente recusa, de si-próprio e de vós-outros. Figura constante do anti-herói, com nada de novidade, que na galeria recorrente só nos traz o excêntrico item de ser careca.
Mas, acima de tudo, a desilusão com a tal "
Afrika" que ele anuncia. Uma desilusão que é também uma muito europeia desistência cognitiva – a “África” desilude porque se incompreende, porque não corresponde às expectativas romanescas do “eu” eurocentrado. Esse mundo desilusão, incognoscível, simbolizado/mascarado no "k" de "isto é
Afrika" – um tique do soviet chic
recorrente naquela década (o livro é de 1993) – mostra-se, ao olhar depauperado do idealista desiludido ocidental afinal um não-west de oportunidades, assim uma apenas sim-south de desorganização e ingerências, um factor "k" na equação de uma selva de trevas. Daí ao suicidário Ferrer nem um passo vai.
Enfim, uma enorme simplicidade de olhar. E, para além do esplendor gráfico, o que sempre vale aquando diante de Hermann, é apenas essa frágil simplicidade, preconceituosa, que fica. Nada acima do registo habitual do olhar dos leitores preferenciais deste tipo de banda desenhada.
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